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Poesias

 

Aventurei-me desde muito cedo pelo mundo da poesia. Ainda na escola secundária, em Coruche, venci um concurso com o poema "Eu em fúria". Ganhei uma colectânea de Fernando Pessoa, e fiquei conquistado para sempre. Alguns anos mais tarde, arrisquei integrar uma colectânea da Minerva, e foi com grande excitação que fui ao lançamento do primeiro volume, no Palácio Galveias. Nos últimos tempos, mais participações em colectâneas e até uma Menção Honrosa no Brasil! Um dia, talvez, o tal livro...

CAIXA DE PANDORA

 

Tenho vindo arrastando uma coroa negra

Ergui um reino gradeado e de altos muros

Preciso que tu perfures a rocha

Talvez entre um pouco de sol…

Preciso de revelar

Todos os meus segredos

Talvez, se vasculhares a noite…

É que há um sol, sabes…

Um sol muito grande e belo

Atrás do muro

Mais luminoso que uma medusa

Procura o fascínio da caixa de Pandora

Não morrerás

Encontrarás no escuro uma outra vida

De que nunca te apercebeste

Desflorarás entre a sebe

A cidade do ouro

Se vasculhares a noite

Encontrarás, finalmente,

O meu coração,

Luminoso.

O maior sol da tua vida.

CAMINHO DE PEDRAS

Já alguma vez sentiste
os anos dentro de ti
caminhando como pedras
sobre amantes distraídos?

Quando me olhaste
depois da realidade
começou para mim
uma nova dimensão
da imortalidade.


 

METAMORFOSE

Lenta, lentamente,
transforma-te
em pedra e diamante.
Junta-te à montanha
onde serei teu rei
e amante

A ESTRADA

 

Não posso esquecer

nunca mais

o teu olhar entre a multidão,

a estrada que abriste

para a corrida vaga

da nossa paixão.

Edições Vieira da Silva, 2014.

AR

Do que precisamos nós para respirar?
Do ar, dizem.
E das outras coisas...
Dos amigos com quem falamos,
do texto que escrevemos,
dos jogos que ganhamos,
dos livros que lemos.
Do que precisamos para respirar?
De tudo em volta
e do ar cada vez menos.

 

Chiado Editora, 2014.

Os meus primeiros poemas publicados em livro, nos dois primeiros volumes da antologia "Da Poesia", publicada pela Editorial Minerva em 1995, sob coordenação de Ângelo Rodrigues. Hoje são volumes desaparecidos do mercado, mas podem ser adquiridos em alfarrabistas. Ou aqui, se me contactar para esse efeito.

O QUARTO

 

O homem tinha um quarto

do tamanho do mundo.

Então...

respirou fundo,

e com um sopro

atirou fora

tudo o que era imundo.

No final,

o homem tinha um quarto

do tamanho de si.

Não tinha além,

só aqui.

SOMBRA

 

No breve momento

em que olhamos para nós,

vemos a sombra

na pedra das calçadas.

Espelho baço,

livro feiticeiro,

liberdade incómoda,

no breve momento

em que não somos nós.

FORA

 

Morro em ti,

no teu olhar profundo,

no doce da tua voz.

Algo em mim

está fora do mundo.

UM INSTANTE

 

Noite dentro,

no céu distante

caminhas tu

sobre mim

num puro instante.

É o sonho

mirabolante

de quem se perde

sobre as montanhas.

Um viajante.

MENÇÃO HONROSA

6.º CONCURSO LITERÁRIO

POETIZAR O MUNDO

BRASIL

ESTRADA DA GLÓRIA

Quando deslizas como seda
no interior da minha memória
pareces uma serpente de ouro
trilhando a estrada para a glória.

Poema concorrente ao Prémio Galinha Pulando, no Brasil, e seleccionado para integrar uma colectânea, que foi publicada em janeiro de 2015.

MORCEGOS

 

Há dias em que voas pelo escuro
e as asas dos morcegos
misteriosamente

roçam o teu corpo.
Há dias em que a ternura

não tem fim
e não é assombrada

por velhos fantasmas.

Há noites em que o veludo
é afiado como uma faca
e a tua pele se rasga
como uma folha de papel.

NOSTALGIA

Hoje volto a sentir

a nostalgia do passado,

a voz de um velho amigo

e o teu rosto inacabado.

As montanhas e as flores,

e os caminhos que percorremos.

Os sonhos, os amantes imaginários

que eternamente seremos.

Hoje volto a sentir

nas palavras que o vento traz

o teu perfume entre as folhas

do romance que aqui jaz.

Os tempos inesquecidos,

o teu rosto e o sorriso do sol.

A lua entre as verdes pupilas,

os projetos iludidos.

NOUTROS TEMPOS

Noutros tempos

dançavam ervas

para lá da janela.

Havia um vento

fazendo carícias

na terra bela.

Noutros tempos

havia ao longe

a montanha escura.

Um velho mistério

no horizonte

sobre a planura.

Agora está a parede.

Frio muro

inultrapassável.

Pisando as ervas,

fecha montanhas,

inalterável.

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